A Influência do Neoliberalismo nas Políticas de Educação do Campo no Brasil (1970-2000): entre a exclusão e a resistência
Resumo
Este artigo analisa os impactos das reformas educacionais brasileiras sobre a educação do campo no período de 1970 a 2000, tendo como eixo interpretativo a ascensão do neoliberalismo e suas implicações para a configuração das políticas públicas. O objetivo é compreender como as reformas educacionais implementadas no Brasil entre 1970 e 2000, sob a influência de orientações neoliberais, impactaram o acesso e a permanência da população do campo na escola, analisando os mecanismos de exclusão produzidos nesse processo e identificando as principais formas de resistência coletiva voltadas à afirmação da educação como direito social. Trata-se de uma revisão bibliográfica de caráter crítico-interpretativo, com sistematização de produções acadêmicas, documentos oficiais e legislações pertinentes ao tema. Os resultados apontam que, durante o período analisado, o modelo de modernização agrícola, impulsionado pela Revolução Verde, aprofundou a concentração fundiária, promoveu o esvaziamento das comunidades rurais e relegou a educação do campo a um papel marginal. Com o avanço do neoliberalismo nos anos 1990, observou-se a intensificação da lógica de mercado nas políticas educacionais, marcada pela descentralização da gestão, redução do papel do Estado e mercantilização dos direitos sociais. Conclui-se que a trajetória da Educação no Campo no período analisado passou por extensas formas de resistência e por uma profunda contradição entre o reconhecimento formal de direitos e sua negação concreta na prática de políticas públicas. O estudo destaca a resistência camponesa como eixo central na luta por uma educação autônoma frente ao capital, voltada à construção de saberes e projetos de vida.
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PDFReferências
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